Mikaelli Andrade

Mikaelli Andrade
Cachoeira Brejão/Coribe-Ba
”A água é o sangue da terra. Insubstituível. Nada é mais suave e ,no entanto , nada a ela resiste. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, Tomando-a como chave e exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente,o coração do povo é tranquilo.” Filósofo Chinês no século 4 A.C

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"As preocupações ambientais contemporâneas originaram-se da percepção da pressão sobre os recursos naturais causadas pelo crescimento populacional e pela disseminação do modelo da sociedade de consumo"

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Código Florestal e Espécies em Extinção - Terrorismo Ambiental e Ciência

Com os recentes debates sobre o Código Florestal, palpites e divagações sobre o potencial de extinção de espécies se disseminaram. Isso torna os cidadãos urbanos comuns vulneráveis os aos abaixo-assinados feitos pela internet, ideológicos mascarados com previsões científicas.

E confunde tanto o Ministério Público quanto o Judiciário - já que a lei brasileira inclui diversos conceitos jurídicos indeterminados, isto é, que requerem pareceres de cientistas para a sua aplicação. E os cientistas, nessa área, simplesmente NÃO SABEM muito mais coisas do que aquelas que sabem.

Aos fatos!

Até Darwin, a noção de “espécie” tinha um caráter pragmático: um masculino e um feminino que produziam um ser semelhante, masculino ou feminino, num processo que poderia continuar para sempre até que algum evento externo ou relacionado à adaptação causasse a extinção da espécie.

Mais recentemente, criou-se o conceito de “árvore das espécies”, que inclui todo o processo de mutação gradativa que já havia sido observado por Darwin desde as primeiras etapas da viagem do Beagle, quando ele anotou a mudança gradativa das formas e hábitos de um pássaro – os fringilídeos -, família que inclui os pintassilgos, pintarroxos, papa-figos, e diversos outros.

Ou seja, dentro de uma mesma família há várias subfamílias, cada uma com diversas espécies. E nessa observação encontra-se um dos fundamentos da Teoria da Evolução Através da Seleção Natural ou A Preservação das Espécies Favorecidas na Luta pela Vida.

Esses fundamentos não se alteraram. Mas os avanços da genética – cromossomos, DNA, e etc - permitiram o surgimento de outras teorias com nomes que pressupõem uma “cientificidade” com precisão apenas aparente, tais como a Teoria da Evolução Assíncrona ou a Teoria Combinatória das Espécies e das Estruturas de Ramificações (Tree-like).

Esta última, usando modelos computacionais, procura dimensionar as “espécies” que podem ou não ser denominadas como tais. Com isso, os cientistas-pesquisadores ficaram excitados com a possibilidade de descobrire novas espécie até na parte de trás do jardim de suas residências norte-americanas!

E os números ganharam proporções surpreendentes quando comparados com as aqueles do período em que os naturalistas avançaram sobre novos domínios geográficos nos séculos XVIII e XIX.

Modernamente, o Projeto Árvore da Vida, da Fundação Nacional de Ciências do governo dos EUA se esmera em tentar classificar tudo, em dar nome a tudo, incluindo um projeto de filogênese ou evolução das unidades taxonômicas de 1.700.000 espécies. Mas o pretenso avanço do conhecimento “científico” termina por reconhecer que não tem a mais vaga idéia de quantas espécies realmente existem.

O projeto “Árvore da Vida” estima que podem existir entre 2 milhões e 10 milhões de espécies no planeta, e reconhece que são conhecidas apenas cerca de 10% dessas espécies. E isso sem contar as que estão em processo de mutação ou de diferenciação. A evolução é parte da natureza da vida.

E as pesquisas continuam, e as áreas geográficas pesquisadas se ampliam – os oceanos, o fundo dos oceanos, a Antártida, a copa das árvores. Amplia-se, também, o campo do tamanho das espécies: insetos, bactérias, micróbios.

Não é de se admirar, então, que leitores de textos de divulgação científica com maiores oportunidades profissionais com essas pesquisas ou de obter rendimentos com campanhas de proteção dos ecossistemas se empolguem na direção de seus interesses pessoais ou tribais em detrimento de qualquer bom senso no campo das ciências humanas. "Que se danem os humanos!" – poderia ser o seu lema.

Do ponto de vista jurídico, afirmar a necessidade de “proteção do fluxo gênico” no texto legal já tem gerado grandes impasses. So mesmo uma Medida Provisória escrita em gabinetes ministeriais ocupados por ONGs poderia gerar um texto legal tão abstrato e de interpretação impossível.

Vale acrescentar um pequeno detalhe: as grandes doações para as pesquisas são provenientes de países que não subscreveram à Convenção Sobre a Biodiversidade, e de corporações que pouco se interessam por princípios éticos ou por direitos humanos dos “povos da floresta’ quando se trata de auferir lucros.

Mas, para assegurar o marketing, esses grupos usam sempre imagens daquilo que o amazônida Ciro Siqueira denomina “macro-fauna carismática”: animais visíveis e bonitos, com ursos panda ou ursos brancos.

Os primeiros foram salvos por cientistas chineses – ainda que com o apoio do WWF-US. Os últimos tendem a ser extintos pelas mudanças climáticas induzidas pela produção e pelo consumo excessivo dos países altamente industrializados (a China é grande fonte de emissão, mas a sua economia é voltada para a exportação e para o consumismo nesses países “avançados”).

É possível conhecer um número significativo de espécies sem paralisar o dinamismo natural da vida - inclusive humana - nos países em desenvolvimento?

Não é por menos que os muito ricos estão fazendo os seus "bancos de genes" que, é claro, não compartilharão com os demais.

***

O autor desta coluna já exprimiu, em numerosos artigos, a sua convicção de que o atual modelo de consumo associado ao crescimento populacional não é, em nenhuma hipótese, sustentável, com ou sem mudanças climáticas. No caminho em que vai a humanidade, não tem papo de "responsabilidade corporativa" e de "responsabilidade compartilhada sobre a geração de resíduos, com logística reversa" que evite o colapso ambiental. Mas tentar atribuir a responsabilidade por esse colapso - ou uma parcela significativa dela - às imprescindíveis mudanças no Código Florestal brasileiro é mera desinformação ou ocultação intencional das responsabilidades pelas principais forças que estão levando a humanidade em direção ao colapso civilizatório.


Fonte: Portal do Meio Ambiente

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