Mikaelli Andrade

Mikaelli Andrade
Cachoeira Brejão/Coribe-Ba
”A água é o sangue da terra. Insubstituível. Nada é mais suave e ,no entanto , nada a ela resiste. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, Tomando-a como chave e exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente,o coração do povo é tranquilo.” Filósofo Chinês no século 4 A.C

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"As preocupações ambientais contemporâneas originaram-se da percepção da pressão sobre os recursos naturais causadas pelo crescimento populacional e pela disseminação do modelo da sociedade de consumo"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A necessidade de gestar uma nova cultura da água

Recente pesquisa elaborada por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)-Piracicaba/SP detectou níveis elevados de metais pesados ao longo da Bacia do Rio Tietê. Estes metais pesados, especialmente mercúrio, cádmio, chumbo e níquel são resultado de dejetos industriais e residenciais ao longo do Tietê. O alto índice de metal pesado na água afeta diretamente e indiretamente a população, causando diversos problemas de saúde, a curto, médio ou longo prazo. São as consequências de uma sociedade que durante séculos optou pelo desenvolvimento insustentável.
A constatação destes metais pesados no Rio Tietê demonstra as escolhas feitas pela sociedade no decorrer dos séculos, especialmente pós Revolução Industrial. Este não é um caso isolado. No Brasil e em todo o mundo, nos deparamos com uma diminuição significativa da quantidade de água doce disponível. É interessante esclarecer que não é uma diminuição da quantidade de metros cúbicos de água. Esta permanece a mesma desde a criação do mundo. É uma diminuição da água própria para uso humano e mesmo de outras espécies animais. A quantidade de água doce no planeta é apenas 2,5% e destes, 1,8% estão em geleiras, 0,6% em camadas subterrâneas e 0,015% em rios ou lagos. O restante pode ser encontrado na umidade do solo, em vapor na atmosfera ou na matéria viva existente.
Atualmente temos tecnologias que podem minimizar ou mesmo acabar com a contaminação das águas, detectar e avaliar a procedência dos metais pesados. Já temos disponíveis tecnologias sustentáveis de reuso da água que, além de tratar, podem prevenir possíveis contaminações. Utilizam-se, inclusive, satélites para impedir o esgotamento de aquíferos e suas contaminações. Temos, portanto, ferramentas capazes de impedir situações como a do Rio Tietê e de muitos outros rios mundo afora. Porém, as barreiras para a implantação destas tecnologias, principalmente nas empresas poluidoras são muitas: desde a econômica, legislativa, financeira, até mesmo a cultural, onde sempre se acreditou que nosso “lixo” deveria ser jogado no rio, pois este leva para longe e tudo está resolvido. Para onde mesmo?
A poluição das águas não pode ser entendida apenas como um problema de responsabilidade do poder público, ou das empresas poluidoras. A responsabilidade é de todo cidadão. Faz-se necessário gestar uma nova cultura da água. Uma cultura que tenha uma visão do todo, que entenda a necessidade da água como fator essencial para a nossa continuação como espécie neste mundo. Precisamos criar uma nova forma de relacionamento com a água, mudar nossos valores e princípios éticos, mudar nossos estilos de vida e compreender nossa interdependência com o meio ambiente e a natureza.

Autor: Amarildo R. Ferrari

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Como é feita a liberação da água numa represa?

Represa Billings
A Sabesp acaba de colocar no ar um infográfico animado que simula como é feita a liberação da água numa represa. Com a animação fica claro o fundamental papel de retenção da água das chuvas exercido pelas represas.  A animação demonstra, ainda, que asonseqüências seriam maiores sem a retenção.






 Fontes:  






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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Com transgênico ou sem transgênico? Eis a questão!


Embrapa Agroindústria de Alimentos coordena projeto que poderá dar suporte às demandas relacionadas à circulação de organismos geneticamente modificados no mercado brasileiro.

O crescimento global do cultivo e do comércio de variedades geneticamente modificadas aumentou também a complexidade do gerenciamento e da preservação da identidade de algumas commodities agrícolas na cadeia produtiva.

A análise de produtos alimentícios e rações para animais contendo organismos geneticamente modificados (OGM) são necessárias tanto para verificar a adequação da legislação de rotulagem em vigor tanto no comércio nacional como no internacional de grãos e matérias-primas, como também para o controle de OGM não autorizados no mercado.

Essas análises são realizadas através da detecção e quantificação do DNA, que pode ser "encontrado" mesmo em alimentos altamente processados (biscoitos, patês, embutidos...), usando métodos baseados na reação em cadeia da DNA polimerase (PCR - Polimerase Chain Reaction) em tempo real, permitindo determinar o percentual de OGM no alimento processado.

Neste contexto, a Embrapa Agroindústria de Alimentos coordena um projeto que poderá dar suporte às demandas da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) para as questões relacionadas à circulação de OGM no mercado brasileiro, garantindo, assim, que o consumidor tenha informações sobre os alimentos e exerça o seu direito de escolha no momento da compra. Também participam deste projeto a Embrapa Soja, Embrapa Arroz e Feijão, Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz), Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O projeto tem recursos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os trabalhos tiveram início em 2008 e será concluído no final de 2011. Os métodos de detecção/quantificação dos OGM desenvolvidos pela Embrapa estão em fase de validação.

Após a validação pode-se repassar a metodologia para a SDA. Assim, quando a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberar organismos geneticamente modificados para o mercado, poder-se-á monitorá-los ao longo da cadeia produtiva.

Autora: *Edna Maria Morais Oliveira é doutora em Bioquímica e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Fonte: (Envolverde/Portal Dia de Campo)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Estabelecido o prazo para o fim dos “lixões”


3 de agosto de 2014. Este é a data limite para o fim dos depósitos de lixo a céu aberto (os populares "lixões"). O prazo foi estabelecido pela "Lei do Lixo" (especificamente o artigo nº 54 da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS). Isso significa que os municípios brasileiros, para se adequar a nova legislação, terão que criar leis municipais para a implantação da coleta seletiva.

Em um prazo de 180 dias à partir da publicação da Lei (que aconteceu no fim de dezembro de 2010), a União, por meio do Ministério do Meio Ambiente, precisa elaborar a proposta preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Em 60 deve levar esta proposta a consulta pública.

Em sua versão preliminar, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos vai definir metas, programas e ações para todos os resíduos sólidos. Para sua construção, a ser coordenada por um comitê interministerial, será utilizada a experiência e estudos sobre resíduos sólidos já acumulados em 18 estados da Federação.

No PNRS há ênfase a chamada "logística reversa", que compreende o conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

Fonte: ((O)) Eco

Para mais informações sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, leia também
Lei do lixo é finalmente é regulamentada

 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A receita de uma tragédia

Desmatamentos e ocupação de áreas que deveriam ser preservadas, somados às chuvas cada dia mais intensas, são a combinação perfeita para o drama das enchentes.

 


Classificada como o maior desastre climático brasileiro, a enchente que desde terça-feira, 11 de janeiro, acarreta um número recorde de mortos - mais de 670 até o momento, milhares de desabrigados e perdas de produção agrícola na região serrana do estado do Rio de Janeiro é o resultado de uma equação perigosa: eventos climáticos cada vez mais extremos, como chuvas intensas e por longo período e áreas fragilizadas por desmatamento.
Pouco mais de mil quilômetros separam o palco das enchentes e Brasília, arena onde deputados ligados ao agronegócio batalham por mudanças drásticas no Código Florestal brasileiro. Por esta estrada cruzamos alguns dos mais de 100 municípios em situação de emergência ou calamidade pública no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na paisagem, dois dos biomas brasileiros mais desmatados: a Mata Atlântica, que perdeu 93% de sua cobertura florestal, e o Cerrado, devastado pela metade.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da ONG SOS Mata Atlântica, na última década, o ritmo de desmatamento da Mata Atlântica se manteve em torno de 34 mil hectares ao ano, uma área equivalente a quase 350 mil campos de futebol de mata nativa. No Rio de Janeiro, estado mais castigado pelas chuvas, mais de 80% de floresta já foi desmatado.
Também segundo o INPE, os últimos 60 anos foram de aumento gradativo da intensidade das águas. Chuvas acima de 50 mm por dia, algo raro até a década de 1950, hoje ocorrem entre duas a cinco vezes por ano na cidade de São Paulo, por exemplo.
“Eventos extremos, que tendem a aumentar por conta das mudanças climaticas, têm sido cada vez mais freqüentes e intensos. Se há dúvidas sobre como lidar com o problema, existe ao menos a certeza de que a solução não é a derrubada de mais floresta”, diz Nicole Figueiredo, coordenadora da Campanha de Clima do Greenpeace.
Enquanto isto, em Brasília, os deputados ruralistas insistem em transfigurar a legislação florestal. É o caso das Áreas de Preservação Permanente (APP), cuja função é proteger margens de rios, encostas e topos de morros, garantindo a estabilidade geológica e a proteção do solo. Se depender da turma da motosserra, algumas faixas de APP serão reduzidas até pela metade. A proteção de beira de rios com larguras de até cinco metros, por exemplo, passariam dos atuais 30 metros para 15. Ficariam liberados para ocupação também os topos de morro, montes, montanhas e serra e áreas de várzea.
Para visualizar o resultado do ideário da motosserra, basta olhar as imagens da tragédia da região serrana. Aos pés de morros lambidos pela terra, o fruto deste tipo de ocupação e do desmatamento de áreas que deveriam ser preservadas, à revelia do que hoje prevê o Código Florestal, é de pura destruição.
“A legislação florestal existe com um propósito claro, o de assegurar o bem-estar da população. É por questão de segurança que há a necessidade de proteger o solo e os rios”, diz Rafael Cruz, da campanha de Florestas do Greenpeace. “As alterações são propostas pela bancada ruralista são irresponsáveis”, complementa.
O Brasil tem mais de 40 milhões de hectares de Áreas de Preservação Permanente ocupadas irregularmente, uma área equivalente ao estado de Minas Gerais. Muitas destas regiões desmatadas estão em municípios que hoje estão em calamidade pública como Petrópolis e Teresópolis, que já perderam 70% de sua cobertura florestal, e São João do Vale do Rio Preto, com quase 80% desmatados.
A bancada ruralista também espera conceder ampla anistia a quem desmatou até 2008, o que inclui as APPs. “A proposta segue na contramão da necessidade de recuperação de regiões frágeis, seja nas cidades, ou em áreas rurais, responsáveis pela produção de alimentos e o abastecimento de água para as áreas urbanas”, completa Rafael Cruz.

Fonte: Greenpeace Brasil

A fome que degrada mais que o homem


Erradicação da miséria beneficia diretamente o meio ambiente. Problema mais grave está nas periferias


Erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais foram anunciadas como prioridades do novo governo federal, que, ao elencar diretrizes, aproxima os objetivos aos compromissos em defesa do meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável. Há quem defenda que, para se concretizar essas metas, programas de âmbito nacional, como o Bolsa Família, deverão permanecer por algo em torno de 20 anos, pelo menos. Fortalecimento da agricultura familiar e aumento da oferta de alimentos — o que depende de amplos investimentos em infraestrutura — são aspectos fundamentais.

Essas condicionais são levantadas por Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo (USP), estudioso de crescimento econômico, distribuição de renda e sustentabilidade ambiental. Para ele, o não acesso à renda e à alimentação está diretamente associado à degradação ambiental, especialmente nas periferias.

Indicadores são fartos para o PAC da erradicação da miséria, anunciado quinta-feira. No Brasil, vão para o lixo 26 milhões de toneladas de alimentos por ano, que matariam a fome de 35 milhões ao mês. Calcula-se que, no País, 20% da produção agrícola se percam na colheita. Outra parte é desperdiçada no transporte ou embalagens inadequadas. Dos 43,8 milhões de toneladas de lixo gerados por ano, 26,3 milhões são de comida: 60% do lixo urbano é orgânico. Muitos tiram dos lixões ou xepas de feiras e atacadões o que comer. Mais de metade das mortes de menores de cinco anos pode ser atribuída a falta de alimentos ou nutrição. O desperdício de comida é uma das maiores distorções da sociedade.

5 minutos com: Jacques Marcovitch, professor da USP

Renda — "Se tivesse que priorizar alguns aspectos no momento, o primeiro é que é preciso elevar o nível de renda do brasileiro, especialmente nas camadas menos favorecidas. Isso tem impacto enorme no meio ambiente. Degradação ambiental e pobreza caminham juntas."

Alimentação — "O segundo ponto para que um plano de erradicação de pobreza dê certo é aumentar a oferta de alimentos por duas vertentes: redução do custo da produção e valorização da agricultura familiar".

Produção — "Há uma questão logística na produção de alimentos no País que precisa ser resolvida, por meio de investimentos em infraestrutura. Perde-se 20% da produção por conta de problemas de embalagem e transporte. Também é preciso aumentar a eficiência da produção, para evitar desperdício de recursos naturais. Já há estudos que mostram essa viabilidade".

Periferias — "A degradação ambiental atinge principalmente as periferias, onde há mais pobres e falta saneamento. Isso leva à maior degradação do meio ambiente. É uma relação de causa e efeito, que também pode ser vista em outros países e pequenas cidades que surgem nas fronteiras. Em muitos lugares, a situação é irreversível, com contaminação total dos lençóis freáticos.

Bolsa Família — "Não há cenário para extinguir o programa de transferência de renda, pelo menos nos próximos 20 anos".


Reportagem:
Leila de Souza Lima
Gazetaweb.com

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Chuvas: quem é que vai pagar por isso?



Não existe explicação que justifique a repetição freqüente e previsível, verão após verão, de tantas perdas de vida e de patrimônio em função das chuvas. Temos gente com conhecimento, tecnologias, recursos, então, por que este problema repete-se em todos os verãos, como já previu Tom Jobim, na música “Águas de março”?

Dizem que não é de bom tom, e que chega a ser cruel, no momento da tragédia, quando se contam os mortos e os prejuízos, cobrar culpas e responsabilidades. Entretanto, em respeito aos que morreram agora, e em respeito aos que poderão morrer no próximo verão, temos de remexer nesta ferida. Lembro a pergunta do Lobão, na canção Revanche: “Quem vai pagar por isso? Até quando as autoridades permitirão, por ação ou omissão, a ocupação das áreas de encosta frágeis pela sua própria natureza, que irão deslizar de qualquer jeito, com ou sem floresta por cima? Até quando as margens de rios e as áreas de várzeas continuarão sendo ocupadas, mesmo com todos sabendo que mais dia ou menos dia encherão? Antigamente, só os mais pobres eram afetados, mas agora, os ricos e a classe média também contam seus mortos. Antes, o problema atingia mais duramente as áreas de risco, mas agora até as áreas consideradas seguras estão sendo atingidas. E alguns ainda resistem em admitir o impacto das mudanças climáticas.

Precisamos aprender com os erros, pois se não fizermos isso, é certo que voltaremos a repeti-los. E entre os mais graves erros está o de só liberarem recursos para as Prefeituras diante da emergência ou calamidade! Por que não se liberam recursos antes, já sabendo que cada real gasto em prevenção economiza mais de 10 na reparação do desastre?

As leis de uso do solo, os planos diretores, as políticas de licenciamento, estão completamente ultrapassadas ou mesmo mal feitas e precisam ser revistos para impedir a ocupação das áreas frágeis ainda desocupadas. Onde estão nossos vereadores tão céleres para conceder títulos e aprovar emendas ao orçamento para seus bairros?

Quanto às áreas já ocupadas, onde estão nossos prefeitos e governadores para promoverem sua desocupação, com ordenamento e inteligência, pois se continuar a não ser feito por bem, a natureza fará por mal, verão após verão! As populações de baixa renda que foram deixadas à própria sorte para ocupar áreas de risco e não edificantes precisam ser realocadas. Onde estão nossas autoridades do Governo Federal e seus programas habitacionais para essas populações de baixa renda? Poderiam estar incentivando mutirões remunerados e o cooperativismo para que os próprios futuros moradores construíssem suas próprias casas, após receberem a devida capacitação, e apoio técnico necessário, em áreas seguras, gerando trabalho e renda, aproveitando para incorporar tecnologias limpas e ecoeficientes.

As unidades de conservação, parques e bosques urbanos não seriam só para a proteção da natureza, mas para proteger as pessoas da natureza. Na medida em que as áreas de risco fossem desocupadas, em seu lugar seriam criadas essas unidades de conservação no local, e cada metro quadrado daria ao município o direito de receber repasses federais e estaduais que os compensassem pela perda de receita com os impostos, que deixarão de arrecadar sobre estas áreas protegidas, como já é feito pelo ICMS Ecológico.

Os profissionais de imprensa, por sua vez, vivem em momentos assim situações equivalente a dos correspondentes de guerra. Como se proteger e ao mesmo tempo estar na linha de frente dos acontecimentos? Como lidar com fontes emocionadas, desinformadas, mal informadas? Como improvisar quando o equipamento falha? Como encontrar as alternativas para transmitir os dados a serem divulgados? Como lidar com o emocional e o profissional diante dos dramas vividos pelas pessoas e pelo próprio profissional? Ate aonde ir neste envolvimento sem prejudicar a tarefa de colher e transmitir a informação? Como lidar com pessoas fragilizadas sem ser invasivo ou insensível diante da dor alheia? Como fazer o seu trabalho sem atrapalhar ao trabalho dos outros, do pessoal do resgate? Como colocar o foco na noticia, ir à raiz do problema, fazer as perguntas certas às pessoas certas? Não dá para se imaginar que toda essa capacitação e prontidão para as respostas acontecerão por um acaso. Onde estão os cursos de capacitação para profissionais de comunicação que precisam cobrir desastres e calamidades?

A solidariedade humana surpreende em momentos de desastre, como surpreende também o despreparo. Muito trabalho voluntário é perdido por que falta coordenação, sistemas de aviso e comunicação, planejamento das ações, onde o trabalho voluntário ajuda e onde atrapalha, onde é mais necessário, etc. E nada disso é possível fazer durante o desastre. Então, precisa ser feito antes. Entretanto, onde estão os cursos de capacitação para voluntários? Como eles podem ser avisados e serem mantidos informados? A quem recorrer para serem encaminhadas para a linha de frente de trabalho voluntários? Quem os ampara psicologicamente diante dos dramas e perdas que irão assistir e com os quais terão de conviver? Sim, por que ao lado das perdas materiais, as pessoas sofrem com terríveis perdas espirituais, que podem ser tão ou mais devastadoras que as perdas materiais. As pessoas podem desmoronar por dentro, perder o estimulo e a motivação para lutar e se reerguer. Como lidar com crianças resgatadas sozinhas, que se tornaram órfãos da noite para o dia, perderam a casa e todas as referências? O lar não está na casa perdida, nos bens materiais, nos documentos históricos. O lar é espiritual. Está onde estiver a família ou o que sobrou dela. Pode estar num estádio que reúne os sobreviventes.




domingo, 16 de janeiro de 2011

Pegada ecológica dos ricos é o descaso com os miseráveis

O Brasil, com os seus cerca de 190 milhões de cidadãos e ocupando a décima posição no ranking dos países mais desiguais do mundo, já ultrapassou 0,3 hectares em relação a chamada “pegada ecológica” – limite sustentável estipulado ou ideal de consumo anual por pessoa.
É óbvio que, em tal linha de raciocínio, uma minoria mais abastada tem sido protagonista na solidificação desta triste marca consumindo em excesso enquanto ainda presenciamos pessoas morrendo por inanição e sem o mínimo do que podemos classificar como dignidade humana.
Na posição número um da lista das atividades que mais impactam nossa “pegada ecológica” está a pecuária brasileira, que com os seus 177 milhões de cabeça de gado ocupa algo em torno de 172 milhões de hectares, ou seja, 50% da “pegada ecológica” da média tupiniquim.
Embora represente um terço do Pib agrícola, esta atividade tem implicado em problemáticas ambientais mais profundas que o cultivo da cana, da soja e de demais culturas do agronegócio, já que o metabolismo bovino é um dos grandes responsáveis pela emissão de gás metano no planeta.
Vida de gado: povo marcado, povo feliz?

Autor: Nilmar Barcelos 
Fontes: Portal do Meio Ambiente/ 
- www.blogdoclaret.com

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tragédia no Rio foi previsível, mas falta à sociedade cultura de prevenção




Subordinação à especulação imobiliária e aos interesses da indústria da construção civil, e negligência do governo na construção de habitações sociais são causas da tragédia no Rio de Janeiro, diz professor da UFRJ. Link

A dimensão humana da tragédia provocada pelas chuvas no estado do Rio de Janeiro é mostrada também na Europa, nas imagens de rios que se abriram em encostas e da busca e resgate das vítimas. Até a tarde desta quinta-feira (13/01), haviam sido contabilizados mais de 350 mortos e as chuvas persistiam.

O grande volume de água provocou deslizamentos de terra nas cidades serranas de Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis. O governador do estado, Sérgio Cabral, declarou que recursos estão sendo providenciados para a reconstrução dos municípios – importantes centros turísticos – que sofreram "em função de uma força da natureza, combinada com ocupação irregular do solo".

"Com todo respeito ao governador, essa é uma declaração absolutamente tola. A culpa pelas tragédias desse tipo não é da natureza. (...) Não existem tragédias naturais, só existem tragédias sociais, que se resumem na forma em como a sociedade organiza a ocupação e sua relação com o ambiente", contesta Carlos Vainer, especialista em planejamento urbano e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As cidades mais afetadas têm em comum o fato de se localizarem em áreas montanhosas, na cadeia da Serra do Mar. Segundo pesquisadores, a região sofre há décadas com ocupação ilegal e irresponsável. O próprio governador teria culpado as prefeituras por não coibirem as construções em áreas de risco.

Subordinação e negligência

Sob a ótica do especialista Carlos Vainer, trata-se de uma questão histórica. Para ele, dois fatores determinam a distribuição do espaço urbano no Rio de Janeiro: a subordinação da cidade à especulação imobiliária e aos interesses da indústria da construção civil, "e a negligência total do governo na construção de habitações de interesse social".

"Devido à falta de habitações para a população pobre, essas pessoas se dirigem a áreas de grande inclinação sujeitas a desmoronamentos", ressalta Vainer.

Nesse episódio recente, entretanto, alguns bairros ricos e condomínios fechados, como na cidade de Petrópolis, foram intensamente atingidos. "E isso mostra a negligência do poder público ao ser condescendente com a especulação imobiliária e autorizar projetos que não poderiam ter sido licenciados. Mas os interesses fundiários e da indústria da construção civil falam mais alto".

O pesquisador ressalta ainda outra questão polêmica. "As mortes, toda essa tragédia, não são provocadas pela falta de recursos. Dinheiro tem. Ele só está sendo gasto de forma errada, desproporcional."



Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Brasil tem 21 sabores sob risco de extinção




Mapeamento é feito por ONG internacional com colaboração de consumidores; até agora, mais de 700 produtos foram catalogados em 48 países

O Brasil tem 21 produtos alimentícios em risco de extinção, segundo o catálogo Arca do Gosto, que lista sabores em risco de desaparecer devido a fatores como a coleta não sustentável, localização do produto em área devastada, baixa procura, perda da tradição de modos de preparo, produção complexa e desinteresse mercadológico. O levantamento é feito pela Slow Food, uma Organização Não Governamental internacional com sede na Itália e com atuação no Brasil desde 2006.
“O nome procura sinalizar para a volta a uma gastronomia, que começa com a escolha dos alimentos considerando a forma de produção sustentável e o respeito aos produtores artesanais, chegando até a mesa, onde a convivência e a celebração valoriza a história do alimento”, explica Roberta Marins de Sá, doutora em bioquímica de alimentos pelo International Centre for Brewing and Distilling, na Heriott-Watt University (Edimburgo, Escócia), e presidente da comissão Arca do Gosto no Brasil.

O movimento pretende restabelecer os hábitos de convivência à mesa, protegendo os alimentos tradicionais e conservando métodos de cultivo e processamento tradicionais em contraposição à correria da vida moderna pautada pelo “fast food” e a padronização do paladar.

A Arca do Gosto, identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos que estão em risco de desaparecer, mas ainda vivos e com potenciais produtivos e comerciais.
Veja abaixo a lista dos sabores brasileiros em risco de extinção. “Os consumidores podem contribuir para alertar e fazer mais pessoas conhecerem produtos ricos, mas que não estão sendo explorados”, explica Sá.
Umbu (Arquivo Slow Food)


*Feijão Canapu
*Berbigão
*Cagaita
*Cambuci
*Licuri
*Mangaba
*Ostra de Cananéia
*Pequi
*Néctar de Abelhas Nativas
*Pinhão
*Aratu
*Arroz Vermelho
*Babaçu
*Bergamota Montenegrina
*Farinha de Batata Doce Krahô
*Marmelada de Santa Luzia
*Pirarucu
*Umbu
*Palmito Juçara
*Guaraná Nativo Sateré-Mawé

Para indicar um produto, basta clicar aqui e preencher o formulário, oferecendo o maior número de informações sobre o alimento. “Enviado o formulário, nossa equipe técnica faz a pesquisa, contata possíveis produtores, caso existam e, se necessário, fazemos contato com o consumidor que enviou o formulário”, diz Salles.

Além dos 21 produtos catalogados até dezembro de 2010, estão em estudo mais seis, todos do semiárido brasileiro, informa Sá. “A catalogação e a atualização da Arca é constante, vamos incorporando na medida é que os estudos são finalizados”.

De acordo com o a entidade, mais de 750 produtos alimentícios, de 48 países, estão ameaçados de desaparecer. A excelência gastronômica, ou seja, a riqueza do aroma e do sabor, também é um dos critérios que o alimento deve atender para fazer parte da lista, além de estar ligado à memória de uma comunidade e ter procedimentos artesanais de preparo.

Fonte: Instituto Akatu/Slow Food Brasil

sábado, 8 de janeiro de 2011

O velho agoniza e o novo custa a nascer

Entre os muitos problemas atuais, três comparecem como os mais desafiadores: a grave crise social mundial, as mudanças climáticas e a insustentabilidade do sistema-Terra.
A crise social mundial deriva diretamente do modo de produção que ainda impera em todo o mundo, o capitalista. Sua dinâmica leva a uma exacerbada acumulação de riqueza em poucas mãos à custa de uma espantosa pilhagem da natureza e do empobrecimento das grandes maiorias dos povos. Ela é crescente e os gritos caninos dos famélicos e considerados “óleo queimado” não podem mas ser silenciados.
Este sistema deve ser denunciado como inumano, cruel, sem piedade e hostil à vida.  Ele tem uma tendência suicida e se não for superado historicamente, poderá levar o sistema-vida a um grande impasse e até ao extermínio da espécie humana.
O segundo grave problema é constituido pelas mudanças climáticas que se revelam por eventos extremos: grandes frios de um lado e prolongadas estiagens de outro. Estas mudanças sinalizam um dado irreversível: a Terra perdeu seu equilíbrio e está buscando um ponto de estabilidade que se alcançará subindo sua temperatura. Até dois graus Celsius de aumento, o sistema-Terra é ainda administrável. Se não fizermos o suficiente e o clima atingir até 4 graus Celsius (conforme advertem sérios centros de pesquisa), então a vida assim como a conhecemos não será mais possível. Haverá uma paisagem sinistra: uma Terra devastada e coberta de cadáveres.
Nunca  a humanidade, como um todo, se confrontou com semelhante alternativa: ou mudar radicalmente ou aceitar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida. A Terra continuará, entregue às bactéria, mas sem nós.
Importa entender que o problema não é a Terra. É nossa relação agressiva e não cooperativa para com seus ritmos e dinâmicas. Talvez ao buscar um novo ponto de equilíbrio, ela se verá forçada a reduzir a biosfera, implicando na eliminação de muitos seres vivos, não excluindo seres humanos.
O terceiro problema é a insustentabilidade do sistema-Terra. Hoje sabemos empiricamente que a Terra é um superorganismo vivo que harmoniza com sutileza e inteligência todos os elementos necessários para a vida a fim de continuamente produzir ou reproduzir vidas e garantir tudo o que elas precisam para subsistir.
Ocorre que a excessiva exploração de seus recursos naturais, muitos renováveis e outros não, fez com que ela não conseguisse, com seus próprios mecanismos internos, se autoreproduzir e autoregular. A humanidade consome atualmente 30% mais do que aquilo que a Terra pode repor.  Desta forma ela não se torna mais sustentável. Há crescentes perdas de solos, de ar,  de águas, de florestas, de espécies vivas e da própria fertilidade humana. Quando estas perdas vão parar? E se não pararem qual será o nosso futuro?
Tudo isso nos obriga a uma mudança de paradigma civilizacional. Mudança de civilização implica fundamentalmente um novo começo, uma nova relação de sinergia e de mútua pertença entre a  Terra e a humanidade, a vivência de valores ligados ao capital espiritual como o cuidado, o respeito,  a colaboração, a solidariedade, a compaixão, a convivência pacífica e uma abertura às dimensões transcendentes  que dizem respeito ao sentido terminal nosso e do universo inteiro.
Sem uma espiritualidade, vale dizer, sem uma nova experiência radical do Ser e sem um mergulho na Fonte originária de todos os seres de onde nasce um novo horizonte de esperança, certamente não conseguiremos fazer uma travessia feliz.
Enfrentamos um problema: o velho ainda persiste e o novo custa a nascer, para usar uma expressão de Antonio Gramsci.
Vivemos tempos urgentes. São as urgências que nos fazem pensar e são os perigos que nos obrigam a criar arcas de Noé salvadoras. Estamos inconformados com a atual situação da Terra. Mesmo assim cremos que está ao nosso alcance construir um mundo do "bem viver" em harmonia com todos os seres e com as energias da natureza e principalmente em cooperação com todos os seres humanos e numa profunda reverência para com a Mãe Terra.

Autor: Leonardo Boff
Fonte: Portal do Meio Ambiente 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Patada ecológica



A "pegada ecológica" dos 187 milhões de brasileiros está estimada em 2,4 hectares por pessoa ano. Já ultrapassou a demanda, considerada equilibrada, de 2,1 hectares. Como o Brasil é o décimo país mais desigual do planeta, é evidente que alguns poucos estão consumindo mais hectares do que a esmagadora maioria que mal consegue sobreviver.

Porém, o estrago feito pela média brasileira tem embutida a "patada ecológica" do rebanho bovino. A pecuária brasileira ocupa 172 milhões de hectares para 177 milhões de cabeça de gado. Cada boi, portanto, ocupa quase um hectare de terra, ou seja, quase 20% da superfície do país. Toda área ocupada pela agricultura não passa de 72 milhões de hectares. Portanto, a "patada ecológica" das boiadas representa quase 50% da "pegada ecológica" da média brasileira.

Hoje a pecuária, parte essencial do agronegócio, representa quase um terço do PIB agrícola. Portanto, tem importância econômica. Ninguém que assuma o comando político do país vai abdicar desse negócio. Seria deposto no dia seguinte. Mas seu estrago é infinitamente maior do que o da cana, da soja e outras atividades do agronegócio. Sem falar que para produzir um quilo de carne são necessários de dez a quarenta mil litros de água, a depender do que é contabilizado em todo o processo.

Há um agravante. Os bovinos, em seu metabolismo, expelem gás metano pelos arrotos e outros mecanismos, um dos gases do efeito estufa, dezessete vezes mais perniciosos que o próprio dióxido de carbono.

As fazendas de gado, nascidas junto com o país, ainda têm o dom de abrigar trabalho escravo em muitas de suas atividades. Portanto, primitivas no jeito de produzir, primitivas no jeito de lidar com as pessoas.

Quem conhece a lógica da biodiversidade sabe que nenhuma espécie sozinha é danosa ao equilíbrio da vida. Porém, quando se torna monocultivo, passa a ser um problema, não uma solução.

Um Brasil que se queira justo e sustentável terá necessariamente que rever a patada ecológica de seus bois.


Autor: Roberto Malvezzi (Gogó)

-Assessor da CPT – Comissão Pastoral da Terra.-

Fonte: (Envolverde/Correio da Cidadania)

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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Somos praga no planeta?


Praga tem diversas acepções, mas a definição objeto de nossas considerações é simplesmente a que se refere à quantidade excessiva de um fator num sistema, desqualificando o próprio sistema. Em outras palavras: presença em quantidade superior à que um sistema coeso consegue suportar. Essa situação só pode ocasionar o desequilíbrio entre as forças de qualquer ambiente, causando o desarranjo harmônico entre as partes e, consequentemente, o caos.

Sobre esse princípio são construídas as principais máquinas destrutivas para a guerra. Um exemplo simples é o da granada. Contido em espaço restrito, numa situação de estabilidade, basta o conteúdo ser transformado em gás para que ele cumpra sua missão química de expansão, causando a desordem pontual e suas calamitosas conseqüências. O poder destrutivo da granada se deve à extrema rapidez – praticamente instantânea – da ocorrência das fases do processo.

No campo biológico, ocorre o mesmo roteiro apontado acima, só que em tempo muito mais lento. O dano, no entanto, pode ser considerado equivalente.

Quando um agricultor verifica que apareceram insetos sugadores (digamos, o percevejo verde) em sua lavoura de soja, contrata um agrônomo para cuidar do problema. O profissional comparece ao campo de plantio e faz uma análise da situação. Colhe uma amostra estratificada e faz seu ajuizamento, no qual pondera diversas circunstâncias: tamanho e estágio vegetativo da lavoura, índice da incidência dos insetos, cálculos sobre capacidade de produção, custos diversos, etc. Após ponderar os dados obtidos, formará um juízo técnico para a ocasião.

Poderá dizer ao agricultor que nada deve ser feito no combate aos insetos no momento. Acrescentará, naturalmente, que a invasão ainda não constitui uma ameaça à lucratividade da colheita estimada. Seu veredito vale para aquela visita, em função do aspecto econômico. Suas análises semanais posteriores guiarão as conclusões parciais ou definitivas.

Enquanto o agrônomo trabalha, os hóspedes indesejados, inocentes e alheios a tudo, continuam no seu labor natural de vida. Estão ali, num campo farto de alimento e cumprem o objetivo natural da reprodução. O instinto não lhes informa nem eles são capazes de medir as conseqüências do crescimento populacional. Prosseguem o roteiro natural, em obediência ao imperativo genético. Não sabem que, ao atingirem certo índice de infestação, o agrônomo decretará a mudança do seu nome: de percevejo para praga, nome genérico terrível que iguala todos os seres que se atrevam a serem protagonistas do desequilíbrio ambiental.

A reação será violenta. É uma situação extrema de luta de vida ou morte. Nessa qualificação de praga, a decisão do profissional não mais será a de tolerância, mas a de combate mortal com uso de todo o arsenal disponível, inclusive o químico. Assim, a tragédia da mortandade naquele ambiente agrícola será irreversível. Os agrotóxicos varrerão da vida todos os habitantes da cultura, inclusive os inocentes insetos benéficos que ali estavam tentando manter o equilíbrio biológico.

Se tal lavoura fosse deixada ao seu próprio destino, sem assistência do profissional, o prejuízo para o lavrador seria total. Como fonte alimentícia para o percevejo, tenderia ao esgotamento total, levando à inanição e morte toda a comunidade hospedeira. As disponibilidades ambientais se extinguiriam e a situação mudaria para um estado caótico em que a tragédia não pouparia ninguém e somente a Natureza saberia como estabilizar.

O animal humano, que se faz representar em todo o globo por sua população de quase 7 bilhões de indivíduos, com sua visão egoística e interferindo na dinâmica ecológica da terra, dos rios, dos mares, da atmosfera, provoca os mesmos danos que o percevejo da soja. A diferença é que, no exemplo citado, fizemos um enfoque no trabalho de um agricultor mantendo um objetivo produtivo. Já no enfoque da situação real por que passa o planeta em seus recursos, a fome dos humanos é contínua e geometricamente cumulativa: fome alimentícia; fome de lucro; fome de comodismo; fome de grandeza; fome de supérfluos; fome de entesouramento. Segundo os cálculos atualizados, as ações humanas retiram do planeta 40% a mais do que ele consegue disponibilizar pela dinâmica natural.

Há, portanto, uma queima de capital, um déficit de recursos, uma desproporcionalidade, um desequilíbrio ambiental gravíssimo. Estamos gastando o futuro para o qual nossos descendentes nascerão munidos da vã esperança de viver em ambiente sustentável.

Alguns animais demonstram possuir um instinto muito mais eficiente que a inteligência humana. Ante a visão crítica de uma superpopulação, certos animais procedem de modo inteiramente racional. O lemingue do norte-europeu resolve o problema com o suicídio em massa. As abelhas excedentes de uma colméia abandonam o lar numa revoada incerta, procurando formar nova colônia. As lulas entram em coma pré-morte sobre seus próprios ovos, numa fantástica demonstração de renúncia à vida-elo em beneficio à vida-corrente.

Não estamos recomendando suicídio a ninguém, mas sugerimos que o animal humano tem a capacidade mental de equacionar e solucionar seus problemas existenciais. Ainda há um tempo curtíssimo, mas alertamos que aos poucos ele se esvai, e a solução se tornará impossível.
Considerada a pegada ecológica, a população mundial equivale, no mínimo, a 100 vezes seu número nominal. Por isso, mudamos de nome. Não somos mais o animal racional, o rei dos seres vivos, o centro do universo; somos simplesmente praga. Deixamos de ser animais racionais para sermos predadores da própria mãe Terra, aquela que nos fornece, com amor e ternura, abrigo, alimento, vida.

Dois fatores incisivos nos levam a essa situação trágica: o antropocentrismo e a ganância. Nós nos esquecemos que o ecossistema inclui a biodiversidade e que nossa individualidade é transitória. Nós, como animal humano, não somos indivíduos, somos a humanidade, parte do todo planetário.
Nessa situação, só nos resta aguardar que um agrônomo celestial venha salvar a Vida planetária, tirando-nos a existência e toda a riqueza material que, paradoxalmente, teimamos em acumular.

Somos praga no planeta. Não aceitamos esse nome, pois o egocentrismo de espécie cega nossa razão. Contudo, essa cegueira não impede que sejamos praga e, nessa qualidade, já selamos nosso destino.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado "Crônicas Ezkizitaz", onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado "Nas Pegadas da Vida", é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado "Agora ou Nunca Mais", sob o gênero "romance de tese", onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

Artigo de Maurício Gomide Martins




Nota: o livro "Agora ou Nunca Mais", está disponível para acesso integral.

Almoxarifadoempoeirado.blogspot.com

PDF: http://www.easy-share.com



Fonte: Portal do Meio Ambiente

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Coração e mente e as boas práticas em educação ambiental

Existe uma falsa idéia de que a pratica é mais importante que a teoria. A prática quando não fundamentada em boas idéias tende ao tarefismo, e pode nos conduzir a agravar o problema que se pretende resolver. Pode nos conduzir ao desinteresse por agir.

O que não significa que falar demais, teorizar demais e fazer de menos também seja uma boa idéia, pois tende ao cientificismo que acumula saberes nos arquivos, blogs, sites, livros, prateleiras, horas e horas de conversas e palestras, sem mudar grande coisa na realidade. O que também pode nos conduzir ao desinteresse pelo pensamento.

O ideal é quando boas práticas se apóiam em boas idéias e em conhecimento. E, como nada é perfeito, mesmo depois, quando estiver agindo, é preciso olhar em perspectiva, tomar certo distanciamento crítico da ação, para refletir se é isso mesmo a ser feito, se estamos no rumo certo, numa combinação entre a teoria e a prática, num processo contínuo e permanente de crítica e autocrítica.

Claro que dá trabalho, por isso existe gente que pensa, mas não faz, gente que faz, sem pensar e gente que não gosta de ser criticada quando está fazendo, ou pensando.

Outra falsa idéia é eleger o conhecimento racional e a prática como mais importantes que os sentimentos. Uma pessoa não está inteiramente pronta para agir se não estiver imbuído antes dos conhecimentos, das idéias, da visão de mundo que fundamente sua ação. E também não estará completamente convencida e motivada para o

conhecimento, e muito menos para a ação, se não estiver envolvida emocionalmente. Assim como boas práticas dependem de um período de conscientização e capacitação, estes dependem da sensibilização que irá imprimir a vontade de querer saber e de querer agir.

Por exemplo, uma pessoa não deverá estar pronta para plantar árvores, limpar ecossistemas, fazer a coleta seletiva, repensar e reduzir o consumo sem antes saber sobre as questões ambientais envolvidas, os riscos, e se não for despertada também sua sensibilidade e amor pela natureza e à vida, ao próximo - incluindo os não semelhantes, como os animais.

O processo de educação ambiental deveria se iniciar com a sensibilização, despertando o amor pela natureza e pelo próximo, a valorização da beleza e o prazer da convivência com a natureza, num processo contínuo onde deve estar presente a busca do conhecimento e a capacitação para a ação e também a capacidade de pensar criticamente, e então, agir.

Nada muda se a gente não mudar. Levar pessoas a participar de mutirões ecológicos ou de caminhadas exaustivas, antes que estejam preparadas e envolvidas emocionalmente com o amor e o prazer de estar na natureza, pode resultar em pessoas desmotivadas e mesmo hipócritas, que praticam um gesto qualquer de defesa da natureza apenas

para seguir a onda, mas que esquece logo em seguida, ou mesmo retorna a práticas predatórias quando não tiver ninguém olhando.


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