Mikaelli Andrade

Mikaelli Andrade
Cachoeira Brejão/Coribe-Ba
”A água é o sangue da terra. Insubstituível. Nada é mais suave e ,no entanto , nada a ela resiste. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, Tomando-a como chave e exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente,o coração do povo é tranquilo.” Filósofo Chinês no século 4 A.C

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"As preocupações ambientais contemporâneas originaram-se da percepção da pressão sobre os recursos naturais causadas pelo crescimento populacional e pela disseminação do modelo da sociedade de consumo"

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A solução da Terra não cai do céu

  Parece até que a Terra acaba de ser descoberta. Os seres humanos fizeram um sem-número de descobertas, de povos indígenas embrenhados nas florestas remotas, de seres novos da natureza, de terras distantes e de continentes inteiros. Mas a Terra nunca foi objeto de descoberta. Foi preciso que saíssemos dela e a víssemos a partir de fora, para então descobri-la como Terra e Casa Comum.

     A partir dos anos de 1960, com as viagens espaciais, os astronautas revelaram imagens nunca antes vistas. Usaram expressões patéticas, como “a Terra parece uma árvore de Natal, dependurada no fundo escuro do universo”, “ela é belíssima, resplandecente, azulbranca”, “ela cabe na palma de minha mão e pode ser encoberta com meu polegar”. Outros tiveram sentimentos de veneração e de gratidão e rezaram. Todos voltaram com renovado amor pela boa e velha Terra, nossa Mãe.

     Esta imagem do globo terrestre visto do espaço exterior suscita em nós sentimento de sacralidade e está criando novo estado de consciência. Na perspectiva dos astronautas, a partir do cosmos, Terra e Humanidade formam uma única entidade. Nós não vivemos apenas sobre a Terra. Somos a própria Terra que sente, pensa, ama, sonha, venera e cuida.

Religião e ciência

     Nos últimos tempos, anunciaram-se graves ameaças que pesam sobre a totalidade de nossa Terra. Os dados publicados pelo organismo da ONU Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, dão conta de que já entramos na fase do aquecimento global, com mudanças abruptas e irreversíveis. Ele pode variar de 1,4 até 6°C., dependendo das regiões terrestres. As mudanças climáticas possuem origem antrópica, quer dizer, têm no ser humano, que inaugurou o processo industrialista selvagem, seu principal causador.

     Se nada for feito, iremos ao encontro do pior. Milhões de seres humanos poderão deixar de viver sobre o planeta. Por isso o grande biólogo Edward Wilson, no seu recente livro A criação: como salvar a vida na Terra, propôs uma sagrada aliança entre as duas forças que ele considera as maiores do mundo: a ciência e a religião. Juntas, poderão salvar a vida ameaçada. A religião, superando seu fundamentalismo e abrindo-se aos conhecimentos científicos, e a ciência sendo feita com consciência e cultivando o respeito para com a natureza.

     Como destruimos irresponsavelmente, devemos agora regenerar urgentemente. A salvação da Terra não cai do céu. Será fruto da nova corresponsabilidade e do renovado cuidado de toda a família humana.

     Dada essa situação nova, a Terra tornou-se, de fato, o obscuro e grande objeto do cuidado e do amor humano. Ela não é o centro físico do universo como pensavam os antigos, mas tornou-se, nos últimos tempos, o centro afetivo da humanidade. Só temos este planeta para nós. É daqui que contemplamos o universo inteiro. É aqui que trabalhamos, amamos, choramos, esperamos, sonhamos e veneramos. É a partir da Terra que fazemos a grande travessia rumo ao além.

     Lentamente, estamos descobrindo que o valor supremo é assegurar a persistência do planeta Terra e garantir as condições ecológicas e espirituais para que a espécie humana se realize e toda a comunidade de vida se perpetue.

     Cada saber, cada instituição, cada religião e cada pessoa deve colocar-se esta pergunta: que faço eu para preservar a mátria comum e garantir que ela tenha futuro, já que ela há 4,3 bilhões de anos está sendo construída e merece continuar a existir? Porque somos Terra, não haverá para nós céu sem Terra.

Mudanças no nosso modo de olhar

     Dois princípios são fundamentais na superação da atual crise pela qual passa o planeta Terra: a sustentabilidade e o cuidado. A primeira considera o capital natural e vê como podemos usá-lo racionalmente para atender às demandas humanas de agora e do futuro, sem dilapidá-lo, mas permitindo que se reproduza sempre. O cuidado refere-se aos comportamentos e às relações para com as pessoas e para com a natureza, marcadas pelo respeito à alteridade, pela amorosidade, pela cooperação, pela responsabilidade, pela compaixão e pela renúncia a toda espécie de agressividade.

     Articulando esses dois princípios, poderemos devolver equilíbrio e vitalidade à Terra. Oferecemos algumas sugestões práticas no sentido de cada um fazer a sua revolução molecular (conforme o filósofo francês Félix Guattari): aquela que começa pela própria pessoa, base para a grande virada de todo o sistema. Eis algumas:

• Alimente sempre a convicção e a esperança de que outra relação com a Terra é possível, mais em harmonia com seus ciclos e respeitando os seus limites.
• Acredite que a crise ecológica não precisa se transformar numa tragédia, mas numa oportunidade de mudança para um outro tipo de sociedade mais respeitadora e includente.
• Dê centralidade ao coração, à sensibilidade, ao afeto, à compaixão e ao amor, pois são essas dimensões que nos mobilizam para salvar a Mãe Terra e seus ecossistemas.
• Reconheça que a Terra é viva mas finita, semelhante a uma nave espacial, com recursos escassos e limitados.
• Resgate o princípio da re-ligação: todos os seres, especialmente os vivos, são interdependentes e, por isso, têm um destino comum. Devem conviver fraternalmente entre si.

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