Mikaelli Andrade

Mikaelli Andrade
Cachoeira Brejão/Coribe-Ba
”A água é o sangue da terra. Insubstituível. Nada é mais suave e ,no entanto , nada a ela resiste. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, Tomando-a como chave e exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente,o coração do povo é tranquilo.” Filósofo Chinês no século 4 A.C

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"As preocupações ambientais contemporâneas originaram-se da percepção da pressão sobre os recursos naturais causadas pelo crescimento populacional e pela disseminação do modelo da sociedade de consumo"

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Por favor, no lixo não

No auge dos meus 9 anos, as pilhas eram minha garantia de diversão nas tardes pós-colégio. Meus carrinhos de controle remoto - pelo menos aqueles que sobreviviam às minhas chaves de fenda - eram campeões de consumo de pilhas e baterias. Lembro até hoje do meu xodó: uma pick-up Colossus da Estrela.
Para garantir a diversão eram necessárias cinco pilhas grandes para o carrinho, duas pilhas pequenas para alimentar os faróis e mais seis pilhas pequenas para o controle remoto. Para a minha tristeza, as treze pilhas não duravam muito. A tração 4×4 do Colussus consumia mais do que "Opalão" 6 cilindros!
Depois de dessecá-las, ainda tinha a esperança de uma sobrevida colocando as pilhas dentro do congelador. Mas o resultado nunca foi muito animador. Depois de dois dias na geladeira, o máximo que conseguia era alguns poucos segundos de diversão adicional. Acabada qualquer esperança de que as pilhas pudessem fazer o motor do Colossus "roncar", o destino final das pilhas era o mais cruel de todos: a lata do lixo. Nessa época do divertidíssimo carrinho de controle remoto, não tinha consciência de que uma única pilha pequena pudesse contaminar cerca de 20 mil litros de água! Também não sabia que para ser dizimada na natureza, uma pilha levava de 100 a 500 anos!
Hoje, já não sou mais um devorador de pilhas como antigamente. E, além de reciclar o lixo de casa, as poucas pilhas que utilizo não vão mais parar na lata do lixo. Há uns bons anos, seja em casa ou aqui na redação, vou juntando as minhas pilhas e a de colegas e depois as encaminho para um dos postos de coleta do Programa Papa-Pilhas. Criado pelo Banco Real em dezembro de 2006, o Papa-Pilhas é um belo exemplo de iniciativa privada em prol do meio ambiente. Com mais de 2 mil postos de coletas no território nacional, só em 2009, o Programa evitou que 155,5 toneladas de pilhas, baterias e recarregadores de celulares fossem parar no lixo.
Apesar de o Programa crescer a cada ano - em 2009, a quantidade de material coletado foi 22% maior do que em 2008 -, a quantidade de pilhas resgatadas pelo Papa-Pilhas não faz nem "cócegas" no montante de pilhas que é consumido no País. Segundo dados da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), cerca de 1,2 bilhão de pilhas comuns e alcalinas são comercializadas anualmente no Brasil.
Depois do Papa-Pilhas, uma serie de outros programas começaram a surgir ao redor do País. Com 2 toneladas recolhidas em 2009, o programa Cata-Pilha, implantado pelos Correios, no Estado de Minas Gerais, é outro exemplo. Hoje, são cerca de 200 agências dos Correios com coletores.
A Porto Seguro é outra empresa que vem investindo em campanhas de cunho socioambiental. Ao todo, na cidade de São Paulo, são 36 oficinas credenciadas onde você pode descartar suas pilhas e baterias para que possam ser encaminhadas para reciclagem. Já no caso das baterias e aparelhos celulares antigos, outra opção são as centenas de lojas das operadoras de telefonia móvel que atuam no Brasil.
Para alegria dos consumidores conscientes e do meio ambiente, uma mudança significativa nesse universo das pilhas deve acontecer até o final de 2010. Segundo a resolução nº 401 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) - uma atualização da resolução nº257 de 1999 -, fabricantes e importadores de pilhas e baterias serão responsáveis pela reciclagem ou descarte definitivo das pilhas e baterias. De acordo com a nova resolução, até novembro de 2010, os locais de venda terão que oferecer postos de coleta para receber o material descartado.
Exemplo gringo
Nos EUA e Canadá, o Call2Recycle (www.call2recycle.org) é um bom exemplo de sucesso quando o assunto é reciclagem de pilhas. Criado em 1996, o Programa conta com a parceria de mais de 350 fabricantes e lojas e já soma mais de 30 mil coletores de pilhas espalhados pela América do Norte. Desde a sua criação, o Programa já recolheu e reciclou 27,7 mil toneladas de pilhas recarregáveis. Só em 2008, foram 3,1 mil toneladas.
Com campanhas educativas veiculadas na TV e em diversas outras mídias, o Call2Recycle vem conquistando adeptos a cada ano. De acordo com a entidade, em 2007, apenas 8% dos norte-americanos reciclavam suas pilhas. Já em 2009, o número saltou para 37%. E, desse total, 91% disseram que o fazem por acreditarem que essa prática trará impactos positivos para o futuro de suas crianças.
Por mais ineficiente que sejam as leis e as iniciativas de coleta e reciclagem no Brasil, evitar que as pilhas acabem indo parar nos aterros sanitários deveria ser obrigação de todos: consumidores, fabricantes, comerciantes e governo. Seja da mais boazinha até a mais perversa, pilhas comuns, alcalinas, de mercúrio, lítio ou níquel-cádmio não deveriam e não devem nunca ser jogadas no lixo comum.
Com poucas iniciativas de âmbito nacional como o Papa-Pilhas e a total carência de campanhas educativas, as pilhas continuam tendo o destino mais cruel de todos. As pilhas que garantem a diversão de hoje serão o pesadelo do amanhã. O grito de socorro do nosso majestoso planeta azul está com os decibéis nas alturas!
*Marco Clivati é Engenheiro Eletrônico e Editor da Revista VídeoSom
(O autor/ Mercado Ético)
Fonte : Portal do Meio Ambiente

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